Chegou finalmente o dia em que o Autor tinha decidido meter mãos à obra.
Certificou-se de que teria todo o tempo do mundo, rodeou-se daquilo que lhe pareceu mais necessário e por fim sentou-se à sua mesa de trabalho, diante da janela que dava para a rua.
Morava ali há vários anos. Era uma rua nem muito estreita, nem muito larga, mas comprida; com algum comércio, duas agências bancárias, uma venda de jornais metida num vão de escada e um café. O café era o que mais o atraía porque era sobre ele que tinha uma visão mais próxima. Além disso, quando o tempo estava bom, quatro ou cinco mesas de esplanada no passeio davam uma vida especial à vizinhança. Havia trânsito também, mas isso não tornava a rua especialmente buliçosa. Os habitantes eram maioritariamente idosos, reformados, gente boa e pacífica, bem educada, que se cumprimentavam e davam dois dedos de conversa de cada vez que se encontravam.
Mas, já estava a divagar…
Ajeitou-se melhor na cadeira e começou a escrever:
“Numa daquelas madrugadas de Maio que mais parece de Janeiro, cinzenta e chuvosa, a mulher corre o mais depressa que pode, dando pequenos saltos para evitar as poças de água, até que chega à porta do café, ainda fechado. Tinha os cabelos escorridos de tanta chuva e os pés arroxeados… Logo hoje tinha feito questão de calçar os sapatos abertos, tipo sandália, que o filho lhe oferecera no “dia da mãe”. Mergulha a mão dentro do saco e tira de lá um molho de chaves. Sempre colada à ombreira, para se abrigar, consegue finalmente abrir a porta que fecha atrás de si com um encontrão. Sete e meia da manhã… não tardavam aí os clientes habituais… Júlia apressa-se a ligar a máquina de café, a torradeira, preparar as chávenas, já com os pacotinhos de açúcar…. ajeita o cabelo no espelho que ocupa toda a parede lateral e foi por fim abrir a porta… começava a despontar um solzinho tímido….”…………
Sem comentários:
Enviar um comentário