sexta-feira, 29 de julho de 2011

lenga-lenga


A criada lá de cima
É feita de papelão,
Quando vai fazer a cama
Diz assim para o patrão:
Sete e sete são catorze,
Com mais sete vinte e um,
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum

quinta-feira, 28 de julho de 2011

D. Fuas Roupinho

D. Fuas Roupinho era um nobre português, alcaide-mor de Porto de Mós, 
que viveu no século XII.

Diz a lenda:

Ao nascer do dia 16 de Setembro, de 1182, D. Fuas Roupinho caçava nas suas terras junto ao litoral quando avistou um veado que, de imediato, começou a perseguir. De súbito, surgiu um denso nevoeiro que se levantava do mar. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta que estava no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local. Estava mesmo ao lado de uma gruta na qual se venerava uma imagem de Nossa Senhora com o Menino. Rogou então: Senhora de Nazaré, Valei-me!. Imediata e milagrosamente o cavalo estacou, fincando as patas no bico rochoso suspenso sobre o vazio, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa.
O senhor D. Fuas Roupinho fez edificar uma capela naquele local que ficaria conhecida como Capela da  Memória, no Sítio da Nazaré.

Lendas


"Uma lenda não é uma invenção arbitrária mas sim uma
deformação ou uma ampliação da realidade"

Jorge Luís Borges

quarta-feira, 27 de julho de 2011

a propósito de palavras...

sabedoria popular - 3

"Quem tem telhado de vidro não atira pedra ao vizinho."

terça-feira, 26 de julho de 2011

os outros

Um dia, já lá vão uns bons anos, escrevi à Fernanda Botelho.
Tinha gostado muito do romance Esta noite sonhei com Brueghel e fiquei terrivelmente   perplexa quando soube que iam transformá-lo em série televisiva... Afinal, depois achei que não tinha resultado assim tão mal...
Foi por tudo isto que decidi escrever-lhe, até porque nessa altura tinha feito aquilo que faço normalmente, que é o "ciclo de....", quando algum autor me agrada especialmente.

E obtive resposta:


segunda-feira, 25 de julho de 2011

personagens... (fim)

Chegou finalmente o dia em que o Autor tinha decidido meter mãos à obra.

Certificou-se de que teria todo o tempo do mundo, rodeou-se daquilo que lhe pareceu mais necessário e por fim sentou-se à sua mesa de trabalho, diante da janela que dava para a rua.
Morava ali há vários anos. Era uma rua nem muito estreita, nem muito larga, mas comprida; com algum comércio, duas agências bancárias, uma venda de jornais metida num vão de escada e um café. O café era o que mais o atraía porque era sobre ele que tinha uma visão mais próxima. Além disso, quando o tempo estava bom, quatro ou cinco mesas de esplanada no passeio davam uma vida especial à vizinhança. Havia trânsito também, mas isso não tornava a rua especialmente buliçosa. Os habitantes eram maioritariamente idosos, reformados, gente boa e pacífica, bem educada, que se cumprimentavam e davam dois dedos de conversa de cada vez que se encontravam.
Mas, já estava a divagar…

Ajeitou-se melhor na cadeira e começou a escrever:

“Numa daquelas madrugadas de Maio que mais parece de Janeiro, cinzenta e chuvosa, a mulher corre o mais depressa que pode, dando pequenos saltos para evitar as poças de água, até que chega à porta do café, ainda fechado. Tinha os cabelos escorridos de tanta chuva e os pés arroxeados… Logo hoje tinha feito questão de calçar os sapatos abertos, tipo sandália, que o filho lhe oferecera no “dia da mãe”. Mergulha a mão dentro do saco e tira de lá um molho de chaves. Sempre colada à ombreira, para se abrigar, consegue finalmente abrir a porta que fecha atrás de si com um encontrão. Sete e meia da manhã… não tardavam aí os clientes habituais… Júlia apressa-se a ligar a máquina de café, a torradeira, preparar as chávenas, já com os pacotinhos de açúcar…. ajeita o cabelo no espelho que ocupa toda a parede lateral e foi por fim abrir a porta… começava a despontar um solzinho tímido….”…………

domingo, 24 de julho de 2011

domingo

Tenham um bom resto de domingo....

sexta-feira, 22 de julho de 2011

lenga-lenga




- Bichinho gato, que comes tu?    
- Sopinhas de leite.
- Guardaste-me delas?
- Guardei, guardei.
- Onde as puseste?
- Atrás da arca.
- Com que as tapaste?
- Com o rabo da gata.
Sape, sape, sape gato
Sape, sape, sape gata
.  

quinta-feira, 21 de julho de 2011

personagens... (cont.)


E o nosso Autor não parou mais de pensar no assunto...
Pegar numa personagem, defini-la, transformá-la em gente, dar-lhe uma vida... "dar-lhe uma vida", repetiu para si mesmo. "Que grande responsabilidade, que grande desafio", pensou.
Entregava-se ele a estas congeminações quando tocou o telemóvel. Os telemóveis têm esta característica de nos poderem apanhar não importa onde.
- Está?!... Quem fala?
- És aquele que quer ser Autor?
- Sim, sou eu... mas quem fala?
- A tua personagem. Estás lembrado?
- Claro, mas...
- Eu sei que marcámos para a próxima semana, mas não consegui esperar.
- Sim...
- Aceito! Entrego-me nas tuas mãos!
- Óptimo! Fico contente.
- Também eu. Podes começar quando quiseres.
- O nosso acordo era na próxima semana. Será na próxima semana!
- Faço votos para que sejamos bons companheiros.
- Seremos inseparáveis, Júlia.
- Júlia?!...
- Sim, Júlia, Júlia da Costa Lemos.
E desligaram.

O Autor respirou fundo. As coisas estavam a correr bem. Agora a bola estava definitivamente do seu lado. Ainda tinha alguns dias.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

sabedoria popular - 2

"Atrás de mim virá quem bom me fará"

segunda-feira, 18 de julho de 2011

personagens...

- Ando a pensar em escrever sobre ti…
- Sobre mim?!
- Sim. Meter-te numa história, fazer de ti uma personagem…
- Uma personagem, eu?!... Não vais longe com isso. Não tenho nada de interessante que mereça ser contado.
- Qualquer pessoa tem sempre alguma coisa de interessante… e, para além disso, posso sempre inventar; se eu te construir como personagem, invento o que eu quiser e ponho-te a fazer o que eu quiser…
- Calma aí!... Nunca ouviste dizer que, não raramente, as personagens se tornam autónomas do autor, criam a sua independência e depois ninguém tem mais mão nelas?....
- Conversa!.... Se isso acontecer, tomo uma atitude, nem que seja fazer-te desaparecer da história.
- Ainda assim, seria eu a condicionar-te…. Começa a espicaçar-me esse desafio….
- Prometes-me então que vais pensar no assunto?
- Está bem… Vou pensar… Começo mesmo a entusiasmar-me com a ideia…
- Tens uma semana. De hoje a oito dias, voltamos a falar. Combinado?
- Combinado!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

sabedoria popular - 1

"Se queres conhecer o vilão,
põe-lhe uma vara na mão"

terça-feira, 12 de julho de 2011

ouvir os outros

"Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar
."


Bertold Brecht 

sábado, 9 de julho de 2011

diálogo

- Tu és minha irmã?
- Não, mãe, não sou tua irmã.
- Então és minha sobrinha?
- Não, mãe, não sou tua sobrinha.
- Então quem és tu?....

sexta-feira, 8 de julho de 2011

quotidianos

"- Deixa-me na outra esquina.
Ele acelera de novo, trava mais adiante, põe o carro em ponto morto e declara:
- Bravo! Ganhas coragem de semana para semana. Por este andar, não tardo a deixar-te mesmo à porta de casa.
- Quem sabe? - inclino-me para examinar no espelho retrovisor qualquer eventual vestígio comprometedor... "


    Fernanda Botelho - Esta noite sonhei com Brueghel , 1987

terça-feira, 5 de julho de 2011

abertura

Escolher palavras pela textura, pela cor....
Combiná-las ao sabor da imaginação e dobá-las em pequenos novelos de frases harmoniosas.
Entrelaçá-las e tecê-las da maneira mais hábil com as agulhas das nossas vivências...

... uma manta quente e macia que nos aconchegue e conforte....
... uma rede leve e vaporosa que estimule o sonho e a fantasia...
... um grito de dor na aspereza dos sentidos....
... um rendilhado regular e austero....
... uma teia desconexa....
... um véu dissimulador...